Brumadinho
Qual será o propósito de tanta dor?
Tantas vidas diferentes, trajetórias distintas findadas no mesmo instante, sob um mesmo contexto.
Em meio a tamanha desolação, uma nação consternada, pergunta: Por quê ?
É tão imaturo quanto inconsequente pensar : Por que Deus permite tanta dor? Assim como é cruel imaginar que tamanha tristeza ocorreu chamando a atenção do mundo para o descaso e insanidade humana sobre a terra.
Especialistas chegam a conclusões tardias de que tudo poderia ser evitado. Laudos barrados e engavetados pelo interesse econômico, revelam em " caixa alta e negrito " uma tragédia anunciada.
Entrevistas mostram pessoas e instituições silenciadas sob a opressão do sistema.
Bocas seladas pela máquina, arquivadas pelo interesse, trancadas a "sete chaves " pelo comodismo, junto à oração para que mais esta ação passe também em silêncio, como tantas outras.
Contendo ou enxugando as lágrimas, é impossível deixar de pensar que o silêncio, a omissão, a negligência e até mesmo a aceitação imediata e impensada de que o progresso é necessário à sobrevivência do homem, sem que a razão se dê conta do: como? Acabou-se cobrando a "conta" de tantas vidas, tantas famílias desfeitas, tantos sonhos enterrados na lama, sem fim.
Tomara Deus, que ao findar a sensatez da esperança, ao término das buscas, quando cessar o som dos helicópteros , o burburinho das vozes, quando não houver mais as bases de apoio, com os abrigos enfim vazios e os gabinetes de socorro forem extintos, o ocorrido não se torne apenas em mais um fato a ser incluso na retrospectiva "global " de 2019.
Que tantas vidas usurpadas impiedosamente pelo interesse econômico, tenham na sua conta de lições, apenas alguns bilhões e a comoção.
Não sei se a angústia, a revolta ou mesmo essa cortina de lágrimas que insiste em nublar - me as vistas e me manter turvo o coração, não me deixa achar a lógica universal de ter um país a revirar a lama em busca de filhos.
Creio que esta resposta seja mais uma vertente"divina" que nos será revelada a Seu tempo.
Porquanto, resta-nos a certeza de que tudo que começa e carrega o princípio do erro, da ambição desgovernada, com preceitos de banalidades e desrespeito à vida, deixa apenas à humanidade a certeza de uma solidão devastadora ao juntar das mãos para a oração derradeira.
Nada a agradecer, nada a pedir. Apenas uma vontade mortal de cessar a dor.
Autor: Márcia Lima